sexta-feira, janeiro 20, 2006

Rumo incerto

Carissimos:

A vida vai-nos pondo à prova diariamente, sem nos pedir licença, ou de alguma maneira visível nos avisar. Parece-me no entanto que o instinto que possuimos, nos avisa por medos, arrepios ou pequenos simbolos que não queremos relacionar quando não acreditamos no destino. Pode parecer vago o que digo, mas é de longe verdade. Tudo na vida depende das expectativas. Tudo o que sentimos depende das expectativas. Por muitos exemplos presentes no meu presente, vindos do passado e passando pelo meu futuro, sei sem a miníma dúvida que tudo o que venho sentindo advém das minhas expectativas. Desilusões, surpresas, são os pólos desta conversa que vos narro sem personagens principais. Fui, sou e sempre serei a causa do meu ser, as consequências do meu fazer, e os resultados do meu poder. Matemáticamente parece-me que a felicidade vem da ausência de expectactativas, mas por outro lado nunca consegui fazer Análise I e sou do Belenenses. Expectativas, não me preocupam, desde que mantenham o meu rumo incerto...
E tenho dito...

3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo que o que sentimos depende das expectativas. Se estamos à espera de uma coisa boa e não se concretiza, temos uma desilusão. E o contrário também é verdadeiro. Se uma coisa boa acontece sem estarmos à espera, ficamos felizes. Mais felizes do que se a esperássemos.
Mas não só. A felicidade vem de um misto de expectativas, concretizações e sonhos.
Se não temos expectativas, não temos motivação para andar para a frente. Não temos nada pelo que esperar. E sem isso, a felicidade não vem. Por isso não posso concordar contigo nesse ponto. As expectativas são quase sonhos. E quem é feliz sem sonhar? Eu não...
Mas na minha modesta opinião, a felicidade tem sobretudo origem nas pequenas concretizações do dia a dia; nos nossos sucessos e nos nossos fracassos. Na nossa capacidade de reacção. É chegar ao fim do dia com orgulho do nosso comportamento.
Basta pensares "melhor que ontem e pior que amanhã" e a coisa vai andado...
Temos que procurar a felicidade e não ficar à espera...

Anónimo disse...

Dá-me licença?

A ironia do destino trouxe-me até aqui.Fiz questão de dar uma "espreitadela" para além do teu outro Eu, pois a face que me é sempre visivel é a da noite.

Enfim...Expectativas: rumo incerto.
Não importa se sabes por onde vais, desde que pelo menos saibas por onde não queres ir.

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Reemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí."

Cátia

Anónimo disse...

grande josé régio, por acaso costumava recitar uma versão mais curta. Esquisitos estes reencontros na net. Vai aparecendo. Beijinhos.
João B. Amado